sábado, 3 de setembro de 2011


Não é somente o Brasil que debate a questão de uma escola para todos. Na estrutura de classes estabelecida no mundo burguês ocidental, esta discussão arrasta-se interminavelmente desde os primórdios do ascenso da burguesia ao poder e a consequente divisão capital/trabalho e o triunfo da mais-valia. Os preceitos liberais de igualdade de condições para todos são cumpridos em seu aspecto mais perverso: no momento da cobrança de eficiência.

A maquinaria seletiva e avaliativa não estabelece desigualdades entre ricos e pobres, entre os que estão alimentados e os que não estão, resultando na exclusão pura e simples daqueles que não conseguem acompanhar o ritmo único.

EVASÃO ESCOLAR OU FRACASSO DA ESCOLA?

Miguel Arroyo
O poder público e os pedagogos responsáveis pelas políticas de educação criaram o termo "evasão escolar". É um rótulo que tem um pressuposto subjacente não muito camuflado pela ideologia.

É facilmente verificável que a evasão escolar debita na conta do aluno a responsabilidade do fracasso. Este rótulo transfere para a esfera individual e familiar a culpa da saída do aluno da escola e inocenta a própria escola. Dificilmente estes agentes falam em fracasso da escola, em inadequação da escola a um aluno que não é respeitado como classe. Miguel Arroyo fala em "classes subalternas", ou seja, as classes sociais localizadas na base da pirâmide do poder aquisitivo.

Na questão social de fundo da inexistência de uma escola única para pobres e ricos, reside um fato profundamente paradoxal; na escola, o aluno é tratado como indivíduo e no máximo como família. Suas limitações, dificuldades de aprendizagem e inadequações são suas e/ou proporcionadas pelo seu entorno. Graças a isto, uma escola pobre de conteúdos e pobre de espaços lúdicos lhe é oferecida para que se torne uma mão de obra um pouco mais qualificada.

Quando este sujeito ingressa prematuramente no mercado de trabalho, tal tratamento individual é abolido. Agora ele é tratado como classe e não é mais considerado incapaz de "viver para trabalhar", não é considerado incapaz para labutar as imensas jornadas de trabalho, ou de simplesmente reforçar o exército de trabalhadores desempregados que garante ao capital a manutenção dos baixos salários.

As questões de classe social não frequentam uma escola que se contenta em fornecer rudimentos de letras e matemática a sujeitos que se espera, não estarão mais de quatro anos nos seus bancos.

É comum ouvir-se a expressão: "É necessário partir da realidade do aluno." Ou seja, segundo esta visão, não adianta "gastar o latim" com alunos pobres, pois estes não terão condições de "assimilar" a alta cultura. Graças a esta visão redutora, os sujeitos das classes pobres são contemplados com uma escola também pobre em conteúdo, que em muito pouco servirá para mudar seu destino fatalista de classe.

Dificilmente escapará da sina de se tornar um trabalhador desqualificado, assim como foi seu pai, seu avô, etc. A visão de se trabalhar a realidade do aluno esconde no seu âmago toda uma ideologia reprodutiva da segregação de classes e erguimento de barreiras intransponíveis para a sua superação. A escola dos pobres se prepara para fornecer o mínimo necessário para que os filhos dos pobres tenham apenas a instrução suficiente para melhor servir o capital.

Nos nossos tempos está acontecendo um fato curioso. O professor normalmente estava localizado numa classe social mais abastada, era um espectador neutro diante da luta de classe e, portanto, um instrumento útil nas mãos da ideologia dominante na imposição das políticas educacionais. Agora, os professores, devido aos constantes achatamentos salariais, vêem-se cada vez mais próximos das classes sociais mais baixas e acabaram por engajar-se em lutas tão parecidas quanto àquelas em que se encontram os pais dos seus alunos pobres.

Neste contexto, torna-se insuportável para um professor empobrecido a visão de que deve preparar seu aluno para ser aquilo que seu pai sempre foi. Esta crueldade passou a fazer parte do seu dia a dia. Ele vê que nada justifica este determinismo e se prepara para despir a roupagem moral/ideológica que o levava a reproduzir dentro da escola as desigualdades sociais.

COMO FAZER DA ESCOLA CARENTE UMA ESCOLA POSSÍVEL?

Enquanto a escola para os pobres for pobre, será uma utopia a construção de uma escola possível. Miguel Arroyo menciona visitas a escolas rurais e de periferia urbana, onde a miséria das suas instalações físicas e humanas atesta a verdadeira miséria que o estado destina à educação.

Enquanto alunos forem considerados incapazes e os professores "sacerdotes" que devem fazer milagres sem quase dotação nenhuma, a escola marginal continuará à margem do processo de desenvolvimento econômico e tecnológico. A escola para as classes subalternas continua sem prescindir de uma ação forte do estado. Não há milagre que faça triunfar um modelo de escola carente para os carentes.

Por: Isaías Malta, Rosmeri Guerra, Márcia Luchese e Valdirene Spangnolo

Referências:
ARROYO, Miguel G. Da Escola Carente à Escola Possível. 6 ed. Loyola, 2003.
ARROYO, Miguel G. Repolitizar os tratos da infância e adolescência populares. Fundação telefônica. 24/07/2009. Disponível em:  Pró Menino. acesso em 02/10/2010

O FOLCLORE E SEUS ENCANTOS!!!!


O folclore brasileiro é rico em personagens lendários e o curupira é um dos principais. De acordo com a lenda, contada principalmente no interior do Brasil, o curupira habita as matas brasileiras. De estatura baixa, possui cabelos avermelhados (cor de fogo) e seus pés são voltados para trás.
A função do curupira é proteger as árvores, plantas e animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o curupira emite sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e assustadoras para espantar os “inimigos da florestas”. Dificilmente é localizado pelos caçadores, pois seus pés virados para trás servem para despistar os perseguidores, deixando rastros falsos pelas matas. Além disso, sua velocidade é surpreendente, sendo quase impossível um ser humano alcançá-lo numa corrida.
Entre os mitos indígenas, o Curupira é incontestavelmente o mais antigo, companheiro inseparável das crenças populares, de onde se admite a possibilidade de ser verdadeiramente indígena, senão antes legado pela população primitiva que habitou o Brasil no período pré-colombiano e que descendia dos invasores asiáticos. Curupira, de “curu”, abreviação de “curumim” e “pora”, corpo ou corpo de menino. É a “Mãe do Mato”, o tutor da floresta, que se torna benéfico ou maléfico aos freqüentadores desta, segundo as circunstâncias e o seu procedimento. Ele possui várias formas apresentando-se através de uma figura de um menino de cabelos vermelhos, peludo, com a particularidade de ter os pés virados para trás, pode Ter os dentes azuis ou verdes e é orelhudo. Todos lhe celebraram as manifestações como guardião das florestas.
Para crença em geral, ele o Senhor, a Mãe, o Guardião das florestas e da caça, que castiga a todo aquele que a destrói, premiando a aqueles que não o contrariam no seu desejo de manter a mata viva, e também para aqueles que se mostram solícitos e obedientes. O Curupira, ora é imperioso e brutal, ora é delicado e compassivo, ora não admite desrespeito ou desobediência, ora se deixa iludir como uma criança. Segundo uma crença generalizada, é o responsável pelos estrondos da floresta. Assim, quando no meio da mata se ouve um estrondo, que não seja uma trovoada, pode estar certo que o Curupira anda por ali… Sob sua guarda direta está a caça que protege, mas entende o caçador e é sempre propício ao homem que mate de acordo com suas necessidades, ou seja, para matar a fome dos seus filhos. Mostra-se extremamente hostil ao caçador que persegue e mata as fêmeas quando prenhas ou cause danos aos filhotes. Para estes o curupira vira uma fera e um é inimigo terrível. Consegue iludi-los sob a feição de caça, levando-os longe… Também é capaz de imitar a voz humana para atrair os caçadores, fazendo-os com que se percam dentro da floresta deixando-os no mato abandonados à fome e ao desamparo. Além de ser protetor dos animais, o Curupira é considerado o Senhor das Árvores. Ele cuida de todas, protege as mudinhas, admira as grandes e bela árvores da floresta. Dizem que armado com um casco de jabuti, bate nas árvores para ver se conservam-se fortes para resistir as tempestades.
Os contadores de lendas dizem que o curupira adora pregar peças naqueles que entram na floresta. Por meio de encantamentos e ilusões, ele deixa o visitante atordoado e perdido, sem saber o caminho de volta. O curupira fica observando e seguindo a pessoa, divertindo-se com o feito.
Análise do simbolismo da lenda
Em mais uma lenda brasileira, assim como na do Saci, vamos encontrar um guardião da mata que precisa se esconder, ludibriar e enganar para fazer o bem. Essa função do oculto, do implícito, para tentar lidar com a ganância, o imediatismo e a inconseqüência dos homens, representado pelo Curupira, mostra e revela a necessidade de estarmos atentos à forma como lidamos com o que a Terra Mãe generosamente nos oferece. Neste jogo de esconde e aparece do Curupira vamos também encontrar uma associação com os próprios recursos naturais, por vezes perigosos, hostis e enganadores, mas cujos mistérios e segredos uma vez passado o susto inicial, podem revelar-se fundamentais para descobertas relacionadas à saúde, por exemplo, se pensarmos na biodiversidade e seu importante e ainda pouco conhecido papel no auxílio às doenças e disfunções do homem e da natureza.
Fonte:
Keila Macário Pavani. Lendas do Saber, Permacultura e Histórias: cuidando da Terra e das pessoas. Ed. Insular. 2008